Quando eu tinha a tua idade, o Eça de Queiroz era leitura obrigatória. E lembro-me de achar aquelas descrições intermináveis uma bela seca. Hoje adoro-as. Fazem-me entrar melhor na história e permitem-me criar um filme na minha cabeça. A descrição dá-me as coordenadas e eu crio aquele mundo maravilhoso em mim.
As descrições são necessárias, e podem ser absolutamente incríveis. Imagina como descreverias um silêncio, ou um cheiro, ou um som. É muito mais do que teres de descrever um cenário, uma casa, um quarto, uma sala, uma paisagem. Quando tens de descrever um sentido, tens de conseguir entrar dentro dele e sugar tudo o que conseguires.
Um som é grave ou agudo? É rápido ou lento? É ritmado ou aleatório? E sobretudo, mais do que tudo, como é que esse som te faz sentir? Triste, feliz, alheado, encontrado, perdido ou em casa. É um som que te eleva ou te afunda? Que te recorda algo ou te enche de otimismo?
Nunca te esqueças que somos todos iguais. O leitor é igual a ti, pode ter características, valores, histórias, atitudes diferentes das tuas. Mas é gente, como tu. E tem medo e ansiedades, sente amor e chora as suas perdas, tem ambições e receio de as perseguir. E tal como tu e o teu leitor, a tua personagem também é gente. Ela tem de ser real, e a forma como a apresentas tem de ser realista.

O que é isto tem a ver com a descrição?
A descrição traz mais riqueza ao teu texto. Porque um cheiro consegue levar-nos a mundos escondidos, porque um som é capaz de nos afundar no mais negro dos buracos, e um sabor pode levar-nos às nuvens. E se souberes descrever esses sentidos, a tua personagem vai viver mais. E o leitor vai sentir mais.
A descrição também o poder de fazer uma pausa ao teu texto. Se passas de ação em ação, levas o teu leitor ao cansaço. Ele está a correr uma maratona com o teu livro, não um sprint. Ele fica agarrado à ação mas precisa da descrição para mergulhar mais na história, para descansar um bocadinho da ação e ter vontade de lá voltar, já descansado.
Ainda tens dúvidas sobre o poder da descrição?
Então fala comigo!